sábado, 28 de dezembro de 2013

Tatiana: o amor majestoso

Por Júlia Lemos


Ela nasceu, digamos assim, como uma revolução. Porque embora tenha sido planejada, gestou-se de um caos para formar-se em maravilha. Mas é revolucionária que nasce a Natureza em sua completude: toda razão e lógica explode em fantásticas reviravoltas de emoção. Só assim transfigura-se deslumbrante em cores, formas e sentimentos indescritivelmente belos. É nesse todo de reviravoltas que ela é profunda e abraça o universo como a mais caridosa mãe. Tentar entendê-la capturando um momento ou uma parte é perder sua grandeza, ou seja, é perder sua essência: a capacidade de se refazer refazendo a todos para si e em si. Natureza que é, ela é majestosa. Cheia de segredos. Centelha que chora em rios, mas renasce em sol. Tormenta que se revira, mas retorna-se em raiz maternal que protege todos os galhos e folhas das tempestades. Como revolução que nasceu,  revolução é.

A frondosa Natureza é ela toda uma mulher.Tatiana fez-se da relação de amor entre a mata amazônica e guerrilheiros por um mundo mais justo e bonito. Como fruto-Natureza, fez filha ao mesmo tempo em que fez-se mãe do mundo inteiro, herdando assim a revolução de sua raiz: ser ao mesmo tempo o princípio e o futuro, a semente e a sombra, água e luz que alimenta. Ainda bebê ela fora a nutrição para os seus pais em amor e reconhecimento de humanidade. Ainda adolescente ela fora a segunda mãe de suas irmãs cuidando da segurança, carinho e educação. 

A sua essência de um todo-mãe reviravolto é a própria Natureza: não se sabe com razão, mas se faz por emoção. É por tormentas que ela segue seu fluxo de querer cuidar dos frágeis seres humanos como se fossem seus próprios filhos. É por tormentas que ela segue seu fluxo de não conseguir deixar de sentir na pele o que o outro sente. Afinal, a frondosa Natureza também quer ser filha e é nesse todo que está sua alegria e dor. E ela faz maravilhas ainda que passando pelas angústias do parto. Majestosa e misteriosa como natureza-mata-amazônica também é toda sol, linda, radiante e estonteante após as tempestades. Não poderia deixar de ser esse misto porque é grande como a própria Natureza, traz a dialética do rio revolto que tudo arrasta e do caos que pare uma estrela dançarina. E de um doce cativante a qualquer um que permite-se conhecê-la e simplesmente deixar-se ser por ela. Casa-se Plínio, faz João e Nina, e ainda permanece um oceano de tesouros raros.

Ela retraduz com a altivez a grande mãe e o grande pai - guerrilheira por humanidades. Ela retraduz com feminilidade a grande Natureza: não se trata de entender razões e sim de gerar amor para além de qualquer lógica. E é esse amor que abraça. Amor que cura. Amor que une. Amor que nos sustenta sem saber-se esteio. Sem saber-se grande como é. Tal como a própria grande natureza não se sabe, Tatiana também nem imagina tamanho ar, água e nutrição é de tantos. Quem dirá o meu... Hoje, no dia do seu aniversário, insuficientes são as palavras para dizer-lhe: te amo, te amo, te amo.





quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Meu pai: gauche na vida!

Por Júlia Lemos

O meu pai é daqueles que recebeu o anjo torto de Drummond e foi ser gauche na vida. Por trazer uma voz inconformada por dentro, muito cedo partiu pra luta por um mundo melhor. Ele estava na Amazônia numa base de guerrilha contra a ditadura militar quando minha irmã Tati nasceu. Quando veio minha irmã Maíra, ele estava comemorando a Anistia. E, quando eu vim, refundando o Partido Comunista do Brasil. 

A sua voz inconformada buscava se elaborar na militância e nos livros. Na música clássica e na MPB. Eu cresci ouvindo os lindos discos que ele colocava na vitrola, com a imagem dele à volta com pilhas de livros e ouvindo o discurso sobre como não ter uma vida mesquinha e egoísta. Mais do que ouvindo esse discurso,vendo o seu exemplo. Ele sempre estava disposto a ir pegar as estrelas do céu não só para nós, suas filhas, mas para todos os que precisassem. Disposto a sair de madrugada para nos buscar nas festinhas adolescentes com direito a declamação de poesias inteiras no caminho da volta. Sua voz inconformada nunca conseguia se conter em nos instigar a pensar, a pensar e a pensar. E foi  nos ensinando a pensar que ele corrigiu nossos erros sem nunca nos levantar a mão. 

Foi em diálogos ricos que ele nos mostrou a naturalidade no contato com a sexualidade na adolescência. A importância de saber compartilhar com as irmãs o quarto, os objetos pessoais, o sentimentos. A importância de buscar um mundo em que o viver compartilhado se sobreponha à violência do eu individual sem limites. Meu pai nos fez saber que a vida de engajamento comunitário, político, é a mais plena de humanidade Nos fez saber o princípio socrático de que uma vida sem exame não merece ser vivida, o princípio timbira. de que a vida é luta e o princípio marxista de que o fim supremo desta luta não é meramente pessoal, mas sim realizar um humanismo real na sociedadeE assim ele nos fez herdar a sua voz inconformada.

Em mim essa voz se fez mais forte pela imagem das pilhas de livros e pela sua citação do poema de Castro Alves que sempre vinha nas dedicatórias dos livros que me dava:

Filhos do século das luzes! 
Filhos da Grande nação! 
Quando ante Deus vos mostrardes, 
Tereis um livro na mão: 
O livro — esse audaz guerreiro 
Que conquista o mundo inteiro 
Sem nunca ter Waterloo... 
Eólo de pensamentos, 
Que abrira a gruta dos ventos 
Donde a Igualdade vooul..

(...)
Oh! Bendito o que semeia 
Livros... livros à mão cheia... 
E manda o povo pensar! 
O livro caindo n'alma 
É germe — que faz a palma, 
É chuva — que faz o mar.


O meu pai gauche na vida é o meu mestre de amar: amar o comum-viver e amar o saber. Hoje, já na minha vida adulta, é o meu precioso amigo em longas conversas não só de inconformidade, mas também de encantamento.

Obrigada por tudo isso, pai!

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Maíra: o amor que canta

Por Júlia Lemos

O Amor andava por aí sorrindo crianças e montando melodias. Até que um dia pensou: quero me fazer em corpo de mulher. E assim foi. A bebê nasceu cheia de cabelos e pressa para falar. No terceiro dia já queria esboçar alguma coisa. Mas, pelo tamanho dos olhos, todos também perceberam: ela também tinha pressa para enxergar. De tanta intensidade desse Amor em corpo, o mundo cresceu rápido e a atingiu em cheio. Pois ela era só amor. E o mundo... tinha muito mais do que isso.

A amor-menina quis aproveitar as mais fortes emoções no ser criança: levar o balanço para o mais alto dos céus, falar pelos cotovelos, fazer rir com palhaçadas e histórias de fantasia também os adultos. E essa amor-menina, menina-amor, não parava mais de ter pressa: queria também as fortes emoções de ser logo mulher. Calçava os sapatos largos e pisava nos vestidos compridos passando o dia a ouvir músicas românticas e a chorar como quem já viveu e já se perdeu. “Mamãe, vem ouvir música que chora”, chamava a criança. 

Por algum motivo ela deu pra ouvir música sem parar. Dia, tarde e noite revezava os discos vinil de seus pais entre Beethoven, Chico, Elis, Bethânia, Gal... E a tal música que chora tocada nas rádios populares. Mal completava 6 anos e já deu de ser cantora adulta. As pessoas boquiabertas com o seu vozerão não entendiam como podia ser: era voz e letra de gente grande. Não sabiam, afinal, que era a imensidão do Amor que estava a atropelar a menina por dentro e a sair sem pedir muita licença àquele corpo de criança. Não sabiam que o que se expressava em pressa era simplesmente o Amor que vem como o mar: em ondas intensas e avassaladoras.  

É por esse mar que, mal se fez adolescente, a menina já queria uma paixão de casal e mal se fez adulta já queria uma paixão de filho. E fez logo três crianças lindas. Pedaços dela que são, também estão cheias de sentimento e de pressa.  Hoje ela já é mesmo uma mulher por inteiro. E, por saber hoje que sua pressa é mar, realiza sua natureza-princípio: passar os dias por aí a sorrir crianças e montar melodias. Passar os dias a encher de beleza esse mundo. Pois, se soube muito cedo que ele não é mesmo só Amor, teve também muito cedo a certeza de quanto o mundo precisa dela, puro Amor que ela é. 

Quem a conhece sabe que essa é a verdadeira história da Maíra, que hoje completa 33 anos. Quem a conhece faz hoje festa no coração. Maíra, nós também somos só Amor para você!


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"Hj é aniversario do meu da minha irmã querida, mãe linda, mulher forte e que eu não sei viver sem estar grudada. Uma vez ela me disse "que não sabia onde terminava ela e começava eu" e é exatamente assim. Sempre fizemos tudo na vida juntas. Querida Maíra, feliz aniversário. Só quero pra sempre te ver feliz. Te amo   Tati."